Top 5: os cinco lugares mais bonitos em que eu já estive (Capítulo 4)
Em segundo lugar na minha lista, está uma viagem muito esperada e planejada: Machu Picchu com Cuzco e Valle Sagrado. Sim, porque Cuzco e Valle Sagrado também merecem a visita e é impossível entender e apreciar Machu Picchu sem mergulhar na cultura inca. Aliás, na minha humilde opinião, menos de 5 dias na região é perda de tempo, pois você vai passar mal com o soroche (mal da montanha) e não vai ter tempo (nem ânimo) para explorar as atrações.
Vamos começar falando de Cuzco. Muita gente usa Cuzco apenas como cidade-base para explorar Machu Picchu e não visita as atrações da cidade. Isto é um erro, pois Cuzco sozinha já valeria a viagem. Capital histórica do Peru e antiga capital do Império Inca, Cuzco é especial pela mistura harmônica da herança inca com a arquitetura colonial (embora, como é sabido, a conquista do Peru tenha sido das mais sangrentas). Seu nome vem da palavra quéchua “Qósqo”, que significa “umbigo”. A cidade era o centro do Império Inca e todas as estradas construídas por aquele povo terminavam na cidade.
Outro aspecto interessante da cidade de Cuzco é que, reza a lenda, ela foi projetada pelos incas para ter o formato de um puma, animal sagrado para essa cultura pré-colombiana. Aliás, abundam nos templos incas as representações do puma (mundo atual), da serpente (que representava o “inferno”) e do condor (que seria o “céu”).
Após a conquista, muitos templos incas foram destruídos (exemplo de Qenqo, severamente danificado) ou sobre eles se construíram prédios coloniais e igrejas (como ocorreu com o Qoricancha, sobre o qual foram construídos a Igreja e o Convento de Santo Domingo). Mas os incas eram exímios arquitetos e engenheiros e um desastre natural iria colocar em evidência essa faceta de sua cultura. No ano de 1950, um violento terremoto destruiu a região de Cuzco, colocando abaixo várias construções históricas, entre elas a Igreja de Santo Domingo. Qual não foi a surpresa dos peruanos ao constatar que todas as construções incas permaneceram de pé, com mínimos danos. Sem dúvida, foi um evento importante para a enorme comunidade indígena da região, oprimida durante anos e proibida de falar seu idioma, o quéchua.
Taí uma outra beleza de Cuzco: o seu povo. Muito educado e solícito, o povo de Cuzco abraça o turista com a sua simpatia e vive com dignidade do turismo. Mesmo os mais pobres se esforçam para atender os turistas que não falam espanhol e você, em regra, não vê os achaques a estrangeiros tão comuns em Pindorama.
Outro highlight é a Catedral de Cuzco, considerada a mais bonita das Américas junto com a Catedral da Cidade do México. O título é merecido, como fazem prova o Cristo negro vestido de roupa indígena e o incrível altar em madeira inspirado na Catedral de Sevilha. Junto com a Iglesia de La Compañía e a Iglesia de La Merced, a Catedral é imperdível.
Mas Cuzco não vive só de igrejas: os templos incas ao redor da cidade são bem legais. Destaque para Tambomachay e Sacsayhuamán, esse último um símbolo do renascimento de Cuzco após os anos negros do Sendero Luminoso. É que, após anos com pouco movimento turístico por conta do terrorismo maoista, Cuzco recebeu a visita de João Paulo II quem, para mostrar apoio ao povo de Cuzco, resolveu rezar uma missa em Sacsayhuamán para demonstrar que a região era segura.
Igualmente deslumbrante é o Valle Sagrado, com as imponentes ruínas de Pisac e Ollantaytambo e o colorido mercado indígena de Pisac. Na região, recomendo ainda Chinchero, uma antiga redução jesuíta com uma vista sensacional para as montanhas Tipón, Verónica e Salkantay, todas com mais de 6.000 metros de altitude.
Machu Picchu dispensa comentários: ela é tudo que você imagina e muito mais. O show começa ainda no trem (dá para ir por uma trilha de 4 dias também), com a paisagem mudando da vegetação altiplânica para a floresta amazônica diante dos seus olhos, com o rio Urubamba sempre ao lado do trem. A temperatura também muda: saí de Poroy com 0º C e cheguei a Águas Calientes (última cidade antes de Machu Picchu) com 30º C.
Chegando a Machu Picchu, não tem como não dizer “uau!” diante da primeira panorâmica da cidade. Redescoberta pelo explorador americano Hiram Bingham no início do século XX, Machu Picchu é extraordinariamente preservada. Pena que tenha sido pilhada por Bingham em um episódio mal explicado (farei um post sobre isso depois), o que nos impediu de ver as extraordinárias peças de ouro que certamente existiam em seu interior – como cidade-templo, Machu Picchu devia ter muitas peças em ouro e prata. Visitá-la é um bom exercício (o sobe-e-desce é intenso) e não há banheiros ou restaurantes dentro dos muros da cidade sagrada, mas todo o sacrifício é recompensado pelo belo conjunto formado pela natureza e pelas construções incas.
Vou parando por aqui porque o Peru e a cultura inca merecem muitos posts. Prometo voltar ao assunto em breve.